Memórias e
Legados


Apresentação

Professor Ibernon Chaves me procurou e foi logo dizendo, João, eu sou um mero organizador deste trabalho. Mas depois de uma leitura atenta à história, causos e memórias da Vila Japiim só poderia ao final dizer-lhe que um mero compilador não conseguiria passar os aspectos sensíveis que permeiam estas páginas. Somente alguém devotado a uma causa poderia com muita pertinácia compor o painel sintético de uma realidade social, de uma cidade meio escondida no extremo oeste brasileiro, mas que pulsa vida de todos os lados e quer ser reconhecida por isso. E aí gente como Ibernon e outros estarão dispostos a doar-se para que essa vida pulse em verso e prosa. Pois esta Mâncio Lima que temos aqui pertence à realidade e à imaginação de todos os manciolimenses e muito mais. É este tributo que Ibernon veio pagar aqui, como um dever à terra amada e que tem de ser acarinhada, porque foi assim que ela foi concebida na memória de seus desbravadores. Ibernon segue uma trajetória e quer deixar um legado.

Por todos os poros destas páginas trasbordam generosidade, devoção e reconhecimento pelo que se é, pelo pertencimento a algo e o simples fato de existir. Por isso, para aqueles que estão atrás de suas raízes temos um prato cheio, mas para aqueles que não conhecem a região do Juruá ou a história da expansão da economia gomífera poderão se deparar com surpresas interessantes de um país que não se reconhece nas figuras dos seus heróis anônimos.

Tom Jobim dizia que o Brasil não é para principiantes. Esta fórmula, poderíamos transferi-la para o Juruá: Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima não são para principiantes. Em mais de vinte anos de Juruá, quantos eu vi chegar e partir. Quantos filhos da terra também abandonaram suas raízes, mas jamais esqueceram o sabor de sua farinha ou o cheiro de suas matas. Ibernon partiu e voltou tantas vezes. Não atrás de nenhum ganho pragmático, mas como alguém que possa sempre acrescentar a cada volta algo imprescindível ao seu município de origem. Por isso, este presente que ele nos dá agora como um gesto emblemático de reconstituição. Não esqueçamos que a importância da memória é um traço difícil de distinguir entre tantas verdades que flutuam em torno do imaginário coletivo, mas da qual não podemos abrir mão para cumprir a nossa condição de privilegiados habitantes de algum lugar.

Um abraço Ibernon e parabéns pelo seu livro.

Cruzeiro do Sul, 20 de setembro de 2012.

João Carlos de Carvalho

Professor da Universidade Federal do Acre, Campus Floresta.

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